25 de março de 2010

NUMA TERRA DE GIGANTES ADORMECIDOS...

por Antonio Carlos Pacheco Filho (Nino)

             Extremamente gratificante viver em meio à pessoas especiais. Pessoas que batalham nas agruras do dia-a-dia, pessoas que dignificam seu sorriso apesar dos asperezas do labor, pessoas que abrem os braços para os abraços fraternos dos amigos.
             Numa Terra de gigantes adormecidos, a graça de se viver está em encontrar amigos, leais escudeiros, leais companheiros. Amigos que não se compram, amigos que não se vendem, amigos, que na letra da lei, obstante sua especificidade, é capaz de formalizar um contrato de irmão.
             Numa Terra de gigantes adormecidos, a letra da lei impera para todos, com sabor, com cheiro, com textura das mais variadas formas. Impera sem o Imperador, impera com o cetro da poder nas mãos de poucos. O leal escudeiro e amigo mostra, direciona os caminhos a serem abrilhantados pelos artigos que incidem numa harmoniosa vida.
             Numa Terra de gigantes adormecidos, a letra da lei também dorme. Acalantada pelos seus artigos, acariciadas pelas entrelinhas, deixa ao sabor do vento a justiça dos homens espraiar-se. E justiça, hoje, é artigo de luxo no País que encalha na absolvição " Calheira".
             Numa Terra de gigantes adormecidos, ensinar, compartilhar, obedecer, instigar. Estimular. Mais nobre ainda é quando nos vemos em uma sala. Tempo de criança “ Agora eu era o herói”; tempo de jovem “ Agora eu era o rei”; tempo de adulto “ Agora era fatal”.
             O saber é uma dádiva, principalmente quando inserido num país marcado por tantas desigualdades. Analfabetos, semi-analfabetos, crianças sem rumo e escola pedem esmola no farol da esquina. O professor tem a missão de transformar essa realidade que é vista também por um aluno, e ter a capacidade de vislumbrar uma forma de combate. Não oferecer subsídios na forma de uma moeda redentora às nossas angústias atadas, aos nossos sofrimentos calados.
             Numa Terra de gigantes adomercidos, a revolução está na pauta das revoluções tecnológicas. A bala baila sobre a resistência do ar! Atrito, só no coração do pueril jornal a ser lido, letras absortas, uma /C/R/I/A/N/Ç/A/ S/E/M/ F/O/M/E/, pegas pelas mãos do vento, por acaso, na condição do real, são só cobertas letras que obstam o frio dos furos do diário. A elite política vive com tropas, trovas e poesias. O povo faz versos com as mãos, com gestos, com gritos e assiste à tropa com a cumplicidade que a elite das tropas não têm.
             Numa Terra de gigantes adormecidos, difícil escutar Astor Piazzolla e celebrar Adios Nonino como um hino a permear nossas idéias e pensamentos. Inconcebível, talvez, numa cidade provinciana, num Estado que amarra sem ser amarrado, degustar os acordes dissonantes do bandoneon louco nas baladas para o mesmo.
             Numa terra de gigantes adormecidos, quem será o malandro? Terá navalha em punho, com gravata e tralha e tal? O malandro se amoldou às classes sociais. Não existe mais o malandro estereotipado. Hoje é burocratizado. Malandro, hoje, pune quem furta uma galinha para não morrer de fome, seqüestra, usa de meios virtuais para clones de cédulas inter(nacionais) e, ao mesmo tempo, cuida dos interesses da Nação, pródiga nação, sem mérito, sem punição, sem amor ao seu conterrâneo.
             Numa Terra de gigantes adormecidos, a Justiça precisa com premência de ser reestruturada. Está na boca do povo. Na boca a jorrar impropérios, castigar dentes e gengivas, a sangrar substantivos e enaltecer adjetivos. Mas o que seriam dos adjetivos sem os substantivos? Caracterizar sem base, adjetivar sem vínculo, criar a imagem sem a cortina do grande espetáculo. Assim está a Justiça. Só. Somente só, sozinha, sem martelo probo, só bobos a pedirem sua absolvição e caminhar novamente para o justo.
             Numa Terra de gigantes adormecidos, cadeias superlotadas a misturar ladrões. Um grande forno a lembrar a miscigenação. Navio Negreiro, salve Castro Alves, os grilhões estão aqui. Batem aqui, aculam, assolam, atiçam, aterram o ser humano. Penas esvoaçam, penas brandas para quem usufruiu da brandura, penas agressivas para quem riu das penas e esquentou num sábado quente, numa panela de barro, amigos de estômago, amigos de cela e cédula o frango caipira que demorou a pelar.
             Numa Terra de gigantes adormecidos, crimes hediondos na crista da onda da discussão. Não!             Progressão em desacordo com cordas e projetos em involução. Progressão não. Criança com base, criança com pão. Rua com carro, bicicleta, com bola de meia ou de capotão. Progressão não. Projetos que não saiam de bocas paternalistas, clientelistas, assistencialistas.
             Numa Terra de gigantes adormecidos, um sonho acorda e alenta o gigante de todos nós. Todos nós desatando os nos adormecidos numa Terra de gigantes. Somos o gigante adormecido, somos muito mais que uma longínqua e tenra terra das fantasias. Somos nós os merecedores de todos os créditos e creditamos a utopia para acordar todos os adormecidos numa Terra de Gigantes. GIGANTE QUE SE ACORDA É GIGANTE QUE NÃO TEME A QUEDA. GIGANTE QUE TEM A JUSTIÇA NO SANGUE, NAS VEIAS, NAS ARTÉRIAS de todos os códigos, leis, estatutos e artigos que compõem a vida tão lida e não vivida da sociedade brasileira.

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