Presidente acreditava que voltaria ao
Planalto com o apoio da população, mas esqueceu de consultar os militares
Jânio Quadros foi eleito
presidente com 48% dos votos (na época não havia segundo turno), mas renunciou após sete meses de
governo, a 25 de agosto de 1961.
Jogou o país numa grave crise política, que só foi encerrada, duas semanas depois, com a posse do vice-presidente João Goulart, mas com a mudança do regime político, do presidencialismo para o parlamentarismo.
Jânio teve uma carreira meteórica: em
sete anos passou de prefeito de São Paulo (1953) a governador (1954) e
presidente eleito (1960).
Ele foi o primeiro político que
transformou o combate à corrupção em plataforma eleitoral. Com a vassoura, um gestual
histriônico e um português recheado de formas oblíquas, transformava cada
comício em um show.
Venceu a eleição para a prefeitura sem base partidária, outra característica sua. Meses depois, em 1954, derrotou seu arqui-inimigo, Adhemar de Barros, para o governo do Estado.
Abriu vários inquéritos para apurar
supostas irregularidades dos governos anteriores. Insistia na tese de que para ele a política era um enorme
sacrifício pessoal e que aguardava ansioso o final do governo para se
recolher a vida privada. O sofrimento era pura representação.
Em 1961 derrotou Teixeira Lott que era apoiado
pelo presidente Juscelino Kubitschek.
Fez um governo bipolar. Adotou um programa econômico conservador.
Em contrapartida implantou
a política externa independente, rompendo com o alinhamento automático
com os EUA em plena Guerra Fria, quando a questão cubana estava no auge.
Desejava o poder absoluto. Tentou um golpe de sorte: a renúncia. Isto
sem que tivesse ocorrido nenhuma grave crise. De forma abrupta resolveu
abandonar a Presidência. Imaginou que retornaria a Brasília nos braços do povo
e com amplos poderes. Puro delírio. Saiu da base aérea de Cumbica solitário,
guiando um DKW, rumo ao litoral, de onde partiu dias depois para a Inglaterra.
25/08
A renúncia de Jânio, um enigma decifrável
JÂNIO QUADROS NETO
JÂNIO QUADROS NETO
No dia 25 de agosto de
1991, Jânio estava
internado no Hospital Albert Einstein, já no final de sua vida (morreria menos de seis
meses depois, no dia 16 de
fevereiro de 1992). Mesmo muito enfermo, estava lúcido. No apartamento,
a TV estava ligada, e o jornalista Carlos Chagas comentava a renúncia,
analisando várias teorias.
Ao ouvi-lo, Jânio ficou bastante irritado e até xingou em reação ao que ouviu. Naquele momento, criei coragem e perguntei: "Então por que você renunciou?".
Jânio respondeu: "Aqueles que os deuses querem destruir, eles primeiro os fazem presidentes do Brasil. Quando assumi a Presidência, não sabia a verdadeira situação político-financeira do país. A renúncia era para ter sido uma articulação, nunca imaginei que ela seria de fato executada. Imaginei que voltaria ou permaneceria fortalecido. Foi o maior fracasso da história republicana do Brasil, o maior erro que cometi. Esperava um levantamento popular e que os militares e a elite não permitissem a posse do Jango, que era politicamente inaceitável para os setores mais influentes da nação na época".
Lembro-me de outra afirmação marcante: "A coisa mais difícil de fazer quando você está no poder é manter a noção da realidade. Ser presidente é a suprema ironia, por ser um todo-poderoso e um escravo ao mesmo tempo".
Churchill disse uma vez que a
política é bem mais perigosa do que a guerra. Isso porque na guerra você só
pode morrer uma vez. Creio que o genial estadista tinha razão.
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